Estava difícil respirar naquelas páginas em branco. Nenhuma história lhe vinha. Procurava então fora de si: uma cena, alguém que lhe inspirasse. Nada.
Só vinham coisas que julgava não poder escrever naquele momento. Escrevia, apagava, não terminava. O que é o esboço da escrita que nunca acaba? O que é o conteúdo de uma gaveta trancada? Medo. Mais do que isso: o medo dos outros.
Nisso consistia o que não terminava. Por outro lado, aquilo martelava: escrevia, relia e mudava. Sempre a sensação de estar sendo má: má amiga, má companheira, má pessoa. “Que ninguém tenha uma amiga escritora!”
E foi pensando em sua maldade que se deteve na palavra má: “mais parece uma palavra cortada! Pobre dela que não se completa!” Escreveu, rabiscou e, finalmente completou: madura, maciça, maluca, matuta e até mesmo mais, mais e mais.
Tudo estava dito: meias palavras não se prestam a nada.
Metade.`´E assim mesmo que as vezes a gente se sente. Escreveu o que não é só para quem escreve, não é específico de uma situação, não é individual, não representa só palavras cortadas, não é apenas para um determinado gênero e nem etnia, é para todos que vivem, é a humanidade em nós. Também gostei por escrever na terceira pessoa. Vá em frente, menina!
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Vírginia, obrigada por este texto. Vou imprimir e grampear na minha agenda. Este trecho me roubou o ar e me fez assentir com a cabeça: “O que é o esboço da escrita que nunca acaba? O que é o conteúdo de uma gaveta trancada? Medo”. E este outro me trouxe alívio, libertade e um sorriso: “Escreveu, rabiscou e, finalmente completou: madura, maciça, maluca, matuta e até mesmo mais, mais e mais”. Obrigada!
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Oi Talita, que lindo ler isso!! Sabe que ao escrever esse texto pensei: acho que estou falando com outras escritoras 😉 Obrigada, obrigada!
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Deslumbrante.
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Obrigada!
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